Um dia, recebi um mail de resposta a um texto que eu tinha escrito, e partilhara com o Dr. Renato Campos. Naquela altura, trocávamos textos. Eu enviava-lhe os meus rabiscos, que ia escrevendo em Angola, e O Dr. Renato enviava-me os seus lindos textos, cheios de emoção e beleza, de Portugal.
Naquele mail, o Dr. Renato Campos disse-me que a critica que tinha a fazer era que eu, sem dar por isso, tinha escrito um poema. Deu-me as boas vindas ao clube dos poetas vivos e pediu-me para ver a nova estrutura do texto que, naquele momento, me enviava – e convertera em poema. Recomendou-me que ainda precisava de ser limado, na ligação dos versos, mas que sem dúvida seria um poema. O ficheiro vinha com o titulo: poema ainda sem nome.
(nunca o alterei. só titulo e a dedicatória. o resto ficará assim)
A água que vinha de mim
percorria-me o rosto, devagar.
Senti-o. Desvendei as suas palavras do ar.
A água secou. O corpo vibrou.. Era o vento a passar sem se mostrar.
E continuou a soprar..
Os teus olhos são pequenos para ver tudo.
Olha com os olhos do que vês.
Quem entende assim, ama sempre
e quem entende sempre, ama assim.
E eu fiz assim. Olhei assim.
Era cintilante, humilde e grandioso, aquele olhar.
E vi ;vi a bondade da sombra, confortar,
a coerência das estrelas, iluminar,
o entusiasmo do sino a avisar,
o sorriso do porteiro, que não vem, espreitar,
a solidão, entristecer,
o desencanto, invejar,
a tolerância, adorar,
a extensão do mundo, sonhar,
a sabedoria do tempo, passar,
a magia do amor, soprar.
Enchi-me de ar (quando ele está, o ser exalta-se):
O corpo eclode com a harmonia.
O coração lotado como nunca.
O sangue corre com a pressa de chegar.
Quer dar a boa nova ao mundo..E chega, chega a cada célula,
a cada orgão, enche-os de energia, vigor, calor, esplendor..
Fico completa. Sem fôlego. Sim, é grande.
Tão grande que não me cabe quando amo assim.
Ele renova e conserta. Transforma!
Ele só existe assim.. quando fica em mim e eu nele, é magia.
Quando está em mim, dilui-se em mim, dilui-se na vida,
na chuva que molha, na areia que brilha,
no sol que aquece, no vento que enche,
na vida que passa..
Um dia ouvi-o soprar..
Quem ama, aceita,
dá, respeita, tolera, entende, espera, agradece.
Eles não sabem, mas quem ama assim, sabe.
Quem ama assim, permite. Permite a vida.
A vida da gente. Da vida da gente que vê assim.
Da gente que ama quem não sabe.
Cláudia Rodrigues Coutinho
Luanda, 29 outubro 2016
Texto dedicado ao Dr. Renato Vieira Campos, os olhos de quem ama e vê assim; os olhos de quem desvendou o poema que eu não vi.
Lindo! parabéns.
Obrigada, Elsa. Bem-vinda a este lugar nosso.