Uma doce reconciliação com a vida e com os outros

Apresento-vos: Renato Vieira Campos. Numa Tarde de Outono naquela Ilha

Se há coisa que não podemos deixar escapar é a maravilhosa empatia que sentimos com as pessoas, com quem nos vamos cruzando. Porque devemos aproveitar esta clara oportunidade de ouvir, aprender e evoluir com os outros, vou convidar algumas dessas pessoas para o Gota de Mel. Pessoas a quem reconheço, e vislumbro, muita doçura, diligência e generosidade. Que são autênticas e têm algo de importante a transmitir-nos. 

Lembro-me do primeiro dia em que conheci o Dr. Renato Vieira Campos.  Pensei que nunca mais o podia perder de vista. E assim tem sido ao longo de mais ou menos 20 anos. O Dr. Renato Campos é uma das minhas grandes referências e exemplos de vida – que tento seguir. Um grande conselheiro com quem aprendo, sempre que converso.

Economista de formação é um democrata convicto e um homem de causas nobres. Simples na vivência e virtuoso na existência. Quem o conhece sabe que não gosta de muitos protagonismos porque considera estar a cumprir apenas os seus deveres.  Falar dele é lembrar  uma pessoa humana,  defensora da justiça, da coerência e do rigor.

O Dr. Renato Vieira Campos encetou o poder local, autárquico, com a porta aberta. Abriu a porta à responsabilidade de olhar por quem contava com ele e nunca mais fechou.

É um homem de palavra e das palavras: justas, certas, estudadas, responsáveis e honestas. Tanto o vemos a escrever artigos sobre economia como assuntos de cariz social, como a fome ou a desigualdade, ou a escrever textos, verdadeiramente, poéticos.

O dr. Renato Vieira Campos aceitou o convite com um dos seus inúmeros escritos, que entendeu ajustar-se ao Gota de Mel.  Para além de uma prosa/poética atesto-vos uma sensibilidade ímpar e um encontro inesquecível.

Numa Tarde de Outono naquela Ilha

Era um final de tarde de um tempo que entardecia, trazendo o vento morno de um Outono que se preguiçava por um verão prolongado que nos aquecia.

Era um tempo de encontro e desencontro.

De coisas passadas nas lembranças de um presente, confidenciadas em segredos e murmúrios.

Estava na minha ilha, local de muitas e antigas reflexões, acompanhado de gaivotas que planavam em voos rasantes sobre um mar ondulando que nos separava e nos unia.

No entanto, não sabia se estava na ilha, ou se a ilha é que estava dentro de mim, confundindo-me as sensações e misturando os sentidos.

Tinha ido para lá para escrever coisas de ontem, desejos de hoje, esperanças de amanhã…

Sobretudo para escrever coisas intemporais projectadas na utopia do imaginário e multifacetadas em policromáticos sensuais.

Mas, sabia que não queria escrever o que já tinha sido mil vezes escrito. Queria escrever apenas com palavras novas, fugidas dos dicionários da vida vivida, procurando em cada página já lida, as palavras ainda por escrever.

Principalmente, queria escrever a luxúria do amanhecer, o vazio da solidão, o ruído dos silêncios, o espreguiçar lânguido de um entardecer na carícia de uma mão….

Enfim… coisas de outrora, estórias de hoje, vivências de sempre e todas as frustrações vividas em sonhos de que nunca acordei.

Mas só apenas e sobretudo com palavras ainda não inventadas e com novas rimas de poemas inacabados.

Queria escrever, escrever, escrever…

Mas naquela ilha e naquela tarde de um Outono que entardecia, não encontrei as palavras que te queria dizer. Apenas encontrei a mais linda estrela da tarde, de onde soprava o vento que num afago nos envolvia.

(R.V.C.)