Uma doce reconciliação com a vida e com os outros

A boa Angola que eu vi (III)

Restinga

Quando nos pedem opiniões sobre Angola não há uma resposta certa.

Cada um deverá saber das suas capacidades de adaptação, compreensão e autocontrolo. É mesmo disso que se trata: criticar e lamentar-se é o que fazem todos; entendimento e despreendimento, só alguns.

Depois de atestar esta realidade – incompreensível para alguns e desafiadora para tantos – confirmo, na primeira pessoa, que se pode fazer uma vida em Angola (esta questão: colocam-ma muitas vezes).

Há um grande tabu sobre Angola. Eu sou prova disso. Quando vim para cá estava formatada para uma série de medos, e julgamentos feitos, que fui desmonstando aos poucos;  e encontrei outros que encaro, e lido, diariamente.

Descobrimos pessoas admiráveis que não sabíamos existir, pessoas novas, amigos nossos. Somos livres de constrangimentos e interesses; conversamos em modo de abertura de espirito e partilha – que nos faz vibrar, e voar, pelo mundo que passamos a saber realizável em qualquer parte. Passamos a fazer parte de vários lados.

É muito comum almoçarmos, ou jantar, em casa do amigo ou do amigo do amigo. Quando convidamos alguém é provável que apareça mais um amigo do amigo – que passa a nosso.

Os restaurantes: existem para todos as preferências: sushi, internacional, italiano, hambúrgueres, típico português ou angolano, entre outros; os supermercados estão, de um modo geral, abastecidos;  nem sempre se consegue encontrar tudo o que queremos num só; temos de ir a outros; acaba-se por encontrar e são caros.

As praias existem para todos os gostos e durante todo o ano; o bom tempo faz parte: as temperaturas raramente baixam os 20ºC (não há invernos rigorosos, para ninguém).

A comida angolana é boa: a banana nacional, as mangas, o mamão e o ananás, as cocadas, o maravilhoso peixe e marisco, a moamba e o funge , o mufete, o óleo de palma com feijão e outros sabores quentes e deliciosos.

Encontramos um povo simpático e afável: o Angolano é, no geral, educado, alegre, bondoso e muito respeitador das pessoas mais velhas. Os mais velhos, ou kotas, estão no topo da hierarquia do respeito e do cuidado das pessoas de Angola. Vivem um grande espírito de família e de união –  que é imperturbável.

As festas, essas, nunca faltam. São regra. Impera a boa disposição e o bom humor no Angolano (que é, na minha opinião, um sinal de inteligência deste povo, como forma de superar as restrições que vivem).

É uma grandiosa lição de vida. No meio da falta há sempre uma gargalha ou um sorriso que disfarça e enche o vazio.

 Sobretudo, são resilientes e alegres, como nunca. Convivem com o pouco e ainda assim não desistem do muito; inventam e seguem em frente,  quiçá à espera de melhores dias.

Meninos bons Benguela

Cláudia Rodrigues Coutinho

Luanda, 6 de junho de 2017