É a primeira curiosidade que surge sempre que conhecemos alguém, novo. Querem saber da origem – que no posiciona e identifica.
Quando saímos do nosso lugar, com a missão de o adiar por um tempo, e o vemos diminuir da janela do avião a nossa percepção altera-se, para sempre.
Esta nova perspetiva abrevia, e sintetiza, o que deixamos para trás. Descobrimos uma vida que continua a correr sem a nossa presença e atestamos que somos pessoas perfeitamente substituíveis; e daí: espetacularmente livres e despretensiosas.
Este registo da distância ajuda-nos a ver as coisas como elas são.
Quando, em Angola, me perguntam de onde sou, solta-se a inequívoca réplica de um orgulho incansável e possante: de Santarém! Conhece?
Por norma as pessoas sugerem, quase sempre, as mesmas associações da nossa terra: “Sei, sim, Santarém. O Ribatejo. A terra dos toiros e dos cavalos.” Ou: Santarém, a Feira da Agricultura. O meu primo andou na Escola Agrícola. Já fui à Feira da Golegã.”
Vislumbro, assim, o meu lugar: distintivo em imagens que exprimem a personalidade e o carácter de uma região ímpar: o Ribatejo.
Deste lado (o outro), confirmo Santarém: a cidade que não se funde, apenas, na imagem das Portas do Sol, nas suas lindas igrejas e monumentos, na Feira da Agricultura, no Festival Nacional de Gastronomia, na Escola Agrária, Salgueiro Maia, Escola Prática de Cavalaria.
Há muito mais: é a imagem da borda do Tejo, das planícies férteis, extensas e verdejantes, dos campinos trajados, de um Tejo convincente na invasão das terras, dos gaibéus e dos avieiros, dos marialvas, do folclore, dos cavalos e dos touros mansos – e bravos para as lides da tauromaquia, das amplas vinhas do bom vinho, das abundantes culturas, do tomate, do milho, do melão, do carolino, do azeite inspirador para qualquer prato, do cabrito, das migas fervidas, dos barretes, dos saborosos pratos de peixes do rio; das numerosas existências.
Avisto Santarém como a mandatária de um centro que se afirma muito bem localizado (com passagens privilegiadas para o norte, o sul e além-mar, europa). Rica em experiências (capaz de um turismo vivo e ativo: de vivências e história, melodioso em natureza e convicto em sabores e tradições). Confirma uma grande importância na agricultura (a região desfruta de evidentes potencialidades, é um território agrícola com um contributo para a agricultura portuguesa muito importante).
A região prevalece no tempo; as terras que se ligam ao Tejo são contadas, poetizadas, dançadas, trajadas e representadas pelas fortes tradições da vida dos Ribatejanos.
Os monumentos majestosos, as igrejas maravilhosas, os mosteiros e castelos narram a história de Portugal.
Vivo na cidade de Santarém: aquela que ergue a extensa alma ribatejana; numa mensagem do passado que se estende num futuro que se quer próspero; rico em oportunidades, infraestruturas e parcerias que reinterpretem o que era; inovando o que precisa ser.
Que pede inovação e mútuas convergências, capazes de ligar, na sua execução, os vários agentes da região.
Assim vos testemunho a extensa vista de Santarém que agrupa e simboliza uma região de muitas realidades, e lugares, apaixonantes.
De um Ribatejo elevado por Almeida Garrett e esboçado, em memórias, nas palavras de José Saramago.
As cores, sabores e ritmos do “Ribatejo” convergem. Santarém, e arredores, saltam como guias de um conjunto de complementaridades; afinidades, profundas, enraizadas, que se certificam em grandeza, juntas.
No rodopio incessante, e impreciso, de chegadas e partidas, entre Angola e Santarém, exprimo-me, acima de tudo: uma orgulhosamente “Ribatejana”.
Luanda, 16 junho 2017
Cláudia Rodrigues Coutinho