Nos últimos dias, por razões que não vêm ao caso, tenho refletido sobre as decisões que temos de tomar no nosso dia-a-dia. Desde a decisão do jantar, da roupa do dia, do gasto cometido, do que se lê, do sorriso ou da palavra que se dá, do ir ou ficar, do desistir ou continuar. Todos os dias tomamos decisões que acabam por refletir aquilo que somos, o lugar onde estamos, aquilo que construímos e até as ligações que preferimos.
A recente chegada aos 40 anos e a mudança para um país novo deram-me a coragem de conseguir reconhecer o indispensável e a admitir o dispensável.
Não se entende logo mas com essas mudanças chegou uma nova perspetiva que me foi deslocando pessoas, periféricas, com quem a ligação foi ficando emocionalmente menos significativa – esbatendo-se na distância e no tempo.
De certa forma, quando transpomos mudanças, que nos dão outras vistas, os que não são essenciais e não encaixam nas nossas certezas vão ficando menos nítidos e acabam por desaparecer na bruma.
Seja com a entrada nos “enta”, ou a mudança para uma nova cidade ou país; a mudança de casada(o) para solteira(o); ou de solteira(o) para casada(o), uma alteração de emprego ou outro paradigma segue-se, quase sempre, uma atualização das nossas ligações imediatas e uma revisão do que está a mais – mesmo do que não sabíamos.
As nossas relações sociais e amizades reagem às circunstâncias da vida e às nossas decisões. Vemos os nomes dançar de etapa para etapa e o seu número a encolher.
Até ao momento da nossa infância e ao início da idade adulta crescemos num seguimento de tentativas e de treinos para encontrar um papel e um lugar para poisar. Para isso, somamos uma rede social grande e ampla.
Convivemos com pessoas que, de alguma maneira, nos ajudam e oferecem informação ou conhecimento que precisamos para os nossos propósitos e gostos. Favorecemos uma ampla rede de contactos matizada e colorida que se confunde (algumas vezes) com amizades.
No entanto, com o avanço da idade e com as mudanças que travamos um banho imenso de realidade despacha-nos para um tudo ou nada na luta para ganhar a vida bem como para conseguir encontrar as pessoas certas para ter ao lado.
A idade e a mudança dá uma maior segurança das escolhas sensatas e genuínas. Continuamos, aguentamos contrariedades e combinamos sucesso com desencanto. Passamos a cuidar mais de quem não imaginamos estar sem a sua presença e queremos redes mais apertadas e transparentes.
A um determinado momento – que é quando se começa a não querer desperdiçar tempo em gratificações futuras cada vez menores – as nossas relações sintonizam-se mais em objetivos emocionais de sentido e menos em motivações triviais de circunstância.
Quando estamos na iminência de iniciar uma nova etapa, ora incitada pelo avanço da idade ora por uma outra qualquer alteração de paradigma as nossas correspondências mais próximas, e imediatas, são revistas.
As transições que acontecem ao longo da nossa vida viram uma espécie de sino de alerta para uma condição de verdade que aperfeiçoa as escolhas e clarifica as dúvidas.
Um sino que anuncia um tempo de que o menos é mais.
Cláudia Rodrigues Coutinho
Luanda, 8 de abril de 2019